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Opinião

A banalização do cristianismo no discurso político brasileiro: entre fé e estratégia de poder

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O uso do cristianismo como ferramenta política se tornou cada vez mais evidente no Brasil, sobretudo nos últimos anos. Palavras como “Deus”, “fé” e “família” ganharam espaço central em campanhas eleitorais e discursos de autoridades públicas. Para líderes religiosos e analistas, essa prática levanta questionamentos sobre a instrumentalização da religião para fins de poder.

Um exemplo emblemático ocorreu em 2019, durante a cerimônia de posse do então presidente Jair Bolsonaro, quando ele declarou: “Eu prometo, diante de Deus, cumprir a Constituição, e vou governar com Deus acima de todos”. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” foi amplamente utilizado durante sua campanha eleitoral, associando sua imagem a valores cristãos. A estratégia dividiu opiniões: enquanto parte dos evangélicos e católicos via a fala como expressão legítima de fé, outros líderes religiosos alertaram para o risco de transformar a religião em ferramenta política.

Casos semelhantes ocorreram em campanhas municipais e estaduais, como na eleição do governador do Rio de Janeiro em 2018, Wilson Witzel, que afirmou ter sido “escolhido por Deus” para o cargo. Durante as eleições, slogans como “Deus no comando” e “candidato de fé” apareceram em santinhos e materiais de propaganda, evidenciando como a religiosidade pode ser usada para criar identificação com o eleitorado.

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A questão não se limita ao campo conservador. Em 2022, durante a corrida presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva também buscou diálogo com lideranças religiosas, citando trechos bíblicos em discursos e defendendo que “Jesus Cristo não pregava o ódio, mas o amor ao próximo”. A apropriação de narrativas cristãs, ainda que em tons diferentes, mostra como a fé continua sendo um elemento poderoso para mobilizar eleitores.

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Para o teólogo e escritor Ed René Kivitz, a instrumentalização da fé compromete a mensagem central do cristianismo. Em entrevistas, ele critica “o uso de passagens bíblicas fora de contexto como estratégia de marketing político”, lembrando que o Evangelho de Jesus é centrado no amor e na justiça, não no poder. Já o teólogo Leonardo Boff ressalta que “usar o nome de Deus para justificar interesses políticos é uma distorção que trai a espiritualidade cristã”.

A prática de invocar Deus no debate político não é nova, mas o contexto atual de forte polarização no Brasil tem ampliado seus efeitos. Para especialistas em ciência política, a religião é usada como um marcador identitário, que legitima candidatos e governos perante segmentos do eleitorado. Para setores das igrejas, entretanto, essa mistura pode esvaziar a essência da fé e transformá-la em slogan.

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O desafio, segundo líderes religiosos críticos a essa prática, é separar a genuína manifestação de fé do discurso meramente estratégico, que muitas vezes não se reflete em ações coerentes com os valores cristãos.

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